José Carlos Loureiro e Luís Pádua Ramos
Da cidade
O problema da cultura no centro da urbanidade
A cidade é o lugar da expressão do pensamento, da arte, da crítica, da reunião, da expressão cultural. Num centro em que a dimensão cultural ainda não tinha espaço nem vez, a construção do Centro Cívico, como complemento das funções administrativas, era inevitável e premente.
O projeto do Centro Cívico, que mais tarde veio a assumir a designação de Fórum, iniciado na década de 80 e construído no início da década seguinte, a fase mais expansionista, é, do conjunto das obras selecionadas para a exposição, aquela que mais confirma a introdução das funções públicas de reforço da condição central no âmbito do conceito de “coroa cultural”, complementar do conceito “centropolis”, previamente introduzidos. Em toda a sua complexidade programática, sobressai a exploração do tema da “casa da cultura”.
José Carlos Loureiro e Luís Pádua Ramos foram precisamente convocados para desenvolverem um projeto que desse resposta à inexistência da esfera cultural de um centro urbano em formação, dimensão que o poder autárquico considerou certamente determinante para a afirmação da cidade e das suas funções. O programa do projeto foi, contudo, mais abrangente, ultrapassando as temáticas culturais.
Não se limitou ao espaço de um projeto de arquitetura, na medida em que o anteprojeto constituiu uma espécie de plano da zona do “centro cívico” da cidade, definindo as bases da urbanização e da edificação nos espaços a norte dos Paços do Concelho. Definiu uma visão evolutiva da cidade, com vários programas e formas. Para além do que não foi construído, importa também salientar a articulação com a construção posterior do Pólo de Serviços (atual Tribunal e Hospital de Dia da Maia).
No contexto da explosão urbana da Maia da década de 80, o Fórum reinterpreta o modernismo e procede à sua superação, como se a complexidade volumétrica da arquitetura fosse reflexo da própria complexidade urbana. A obra é ainda precursora da tendência de recentramento das questões sobre a cidade, do desenho do edificado para o desenho do espaço público.
Da arquitetura
O edifício-cidade: da malha ao tecido
O equipamento cultural e de serviços implantou-se no grande terreno a norte do edifício dos Paços do Concelho, conseguindo organizar / estruturar o espaço entre a Rua Padre António (a poente), a Rua Eng.º Duarte Pacheco (a nascente) e a Rua Dona Deolinda Duarte dos Santos (a norte).
O extenso processo de projeto desenvolvido ao longo de cerca de três décadas, mostra a natural evolução da proposta na tentativa de controlar as vicissitudes da complexidade em formalizar um equipamento desta natureza no espaço que se pretendia converter em componente importante do centro urbano.
A vista axonométrica do estudo preliminar, de 1980, é, desde logo, um exemplo formal dessa vontade: configura uma série de núcleos edificados e não edificados, estruturados e articulados por uma malha ortogonal de galerias que se estendem a todo o terreno que, na altura, se encontrava disponível para implantar a obra. Esta conceção, potenciada pela grelha compositiva dos percursos pedonais cobertos, parece ter permitido introduzir na forma de projeto uma polivalência funcional e plástica que facilmente poderiam ser geridas, perante as possíveis variações programáticas exigidas pelo cliente. Neste caso, importa salientar que a valência do conceito formal reside na possibilidade dos espaços intersticiais poderem ser interpretados enquanto módulos, transformados em núcleos temáticos não edificados (vazios), como praças ou jardins, ou edificados (cheios), como biblioteca ou museu. A potencialidade do conceito assemelha-se àquela da proposta Frankfurt-Römerberg (1963), de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. A forma construída é encarada como edifício-cidade, onde os percursos formam a malha e os espaços intersticiais o complemento funcional para conformar o tecido.
Nas fases seguintes, a forma de projeto foi sofrendo correções sucessivas, sobretudo ao longo da década de 80. Contudo, esta condição sine qua non associada à orgânica de qualquer processo de projeto em arquitetura não desconsiderou o conceito-base que, de facto, garantiu a introdução de uma série de qualidades no território do centro da Maia, ajudando a consolidá-lo.