#10 Edifício Maia Trade Center

João Álvaro Rocha

Da cidade
Arquitetura icónica para trabalhar

À semelhança da obra anterior, o edifício Maia Trade Center exemplifica um conjunto de arquiteturas de exceção, produzidas no centro da cidade sob iniciativa privada, num contexto de projeção da cidade e do centro. Neste caso, ao nível do imobiliário de serviços, também com recurso à instrumentária mais convencional do urbanismo – não já através de um loteamento, mas de uma simples operação de edificação / construção.

Se, no caso da obra anterior, a consolidação da cidade se exprime através da expansão da urbanização e da edificação, neste caso, a lógica é diferente, chama-se preenchimento ou, na terminologia urbanística anglo-saxónica, infill – nas imediações de um lugar onde alguns anos antes foram demolidas pequenas escolas do Estado Novo, nasce uma arquitetura também de exceção, também abstrata e portadora da carga icónica que caracteriza o ADN da condição central.

A conceção do exercício não começa com a arquitetura – neste caso, trata-se de uma das situações desenvolvidas a partir de um processo de planeamento, de desenho abrangente da cidade. É no contexto da formulação do Setor A do Plano de Pormenor do Novo Centro Direcional da Maia que se define uma volumetria de exceção, marcando o cruzamento da Rua Dr. Carlos Pires Felgueiras com a Rua Dr. Augusto Martins, uma pequena “torre”, que remataria um novo corpo longitudinal extenso, resultante da demolição do empreendimento de habitação social Maia I, construindo uma parte do cenário urbano de chegada à cidade no metro de superfície.

As contingências da evolução da cidade não ditaram a demolição da habitação social, mas a sua reabilitação. Em todo o caso, a construção do edifício Maia Trade Center, que reproduz um pouco da ambição direcional, à escala da Maia, do quase homónimo World Trade Center nova-iorquino, à escala do mundo, é um efeito concreto do processo de projetar a cidade e da capacidade do planeamento configurar a ação dos agentes privados em função de uma determinada estratégia pública. Ao contrário do caso anterior, aqui o processo vai da forma da cidade para a forma da arquitetura.

Da arquitetura
Da abstração e da (i)materialidade da forma

O edifício de escritórios e comércio localiza-se num local importante da urbanidade da Maia: a chegada da linha C do Metro, vinda do Porto, junto ao cruzamento entre a Rua Dr. Augusto Martins e a Rua Dr. Carlos Pires Felgueiras.

O Maia Trade Center é uma pequena parte do projeto que procurou reabilitar todo o quarteirão onde se localiza também a Igreja de Nossa Senhora da Maia. Nessa proposta, o volume de esquina é o elemento de remate do novo bloco de habitação que se configurava na zona poente (onde atualmente se encontra a habitação social). No entanto, apesar da amplitude da proposta para o quarteirão, apenas o condicionado volume de esquina foi construído.

No processo de projeto são identificáveis algumas das variações formais pelas quais a proposta passou. A génese concetual dessas soluções de projeto é assumidamente abstrata e serviu de mote a toda a investigação: desde a simples (de)composição hierarquizada de volumetrias-caixa até à conformação final das volumetrias-faixa a partir da sobreposição repetitiva de pisos. A solução construída é a expressão do tema compositivo do simples empilhamento de faixas horizontais que representam alternadamente a laje de piso e o espaço correspondente ao pé-direito. A esta base compositiva acrescentam-se apenas três variantes: 1) o deslizamento / desalinhamento do rés-do-chão para norte, permitindo demarcar a entrada no átrio de acesso vertical aos escritórios e que, simultaneamente, afirma as lojas que se encontram voltadas para a Rua Dr. Augusto Martins; 2) a definição de aberturas – estreitas – entre as faixas de laje, mas aparentemente dispostas de modo aleatório (respeitam a racionalidade das unidades modulares); 3) a colocação de um contentor no último piso (área técnica).

À formalidade do edifício também acresce a sua identidade material que, neste caso, não deixa de ser alheia ao reiterar da condição compositiva, pois com a distinção entre as diferentes faixas horizontais, na circunstância pela alternância entre alumínio e vidro (+ caixa de ar + painéis de lã de madeira com isolamento térmico e acústico incorporado). Esta materialidade empresta à forma uma fenomenologia interessante: jogos de opacidades, de transparências e de reflexos que sucedem ao longo do dia e que dão ao edifício uma fisicalidade ambivalente, ou seja, entre a aparência de estar presente e/ou a aparência de estar ausente.

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