#11 Centro Comercial e Hipermercado Maia Jardim

Alexandre Burmester e José Carlos Gonçalves

Da cidade
O jardim do centro na saída da autoestrada

Tal como no caso da refinaria AAA, a têxtil Finex, de um grupo finlandês, também se tinha instalado na margem de uma linha de água, a Ribeira do Arquinho, desde 1968. Em 2004 a empresa encerra, antes ainda da crise do setor eclodir. No segundo semestre de 2006 começam as obras de alargamento da principal artéria viária, de ligação nascente-poente a norte do centro da Maia, o IC24, que, entretanto, passa a designar-se A41. As obras incluem e procedem à execução do nó superior do Requeixo e de uma nova rotunda, de articulação com a EN 107. O cadáver industrial torna-se apetecível à margem do Decumanus da Maia, no limite de influência dos efeitos da centralidade.

O projeto do Centro Comercial e Hipermercado Maia Jardim começa em 2004, depois do encerramento da têxtil. É um caso que demonstra a enorme volatilidade dos grandes investimentos privados, em contexto de incerteza. A sequência de clientes e projetos reflete precisamente a mutação recorrente das formas da arquitetura, em contínuo reajustamento, implicando cada vez mais agentes em tensão pela defesa de interesses privados ou públicos.

Com excelentes acessibilidades viárias, mas descentrada, é uma obra que assinala a diversidade da condição central no território, definindo um limite possível para a expansão do centro da Maia. Explora muitas das temáticas mais interessantes e controversas da(s) forma(s) da cidade contemporânea, num exercício de elevada complexidade projetual:

1) O centro não está mais confinado à cidade canónica, está noutras geografias e arquiteturas – por exemplo, nas novas catedrais do consumo, com elevado potencial de polarização de fluxos económicos, bens e pessoas, e naquelas formas que, na auréola do urbano consolidado, engendram a mediação entre as estruturas viárias de grande capacidade e as ligações capilares locais.

2) O centro também acontece nas estruturas industriais abandonadas, quando a inventiva arquitetónica reescreve o “palimpsesto” do urbano e arrisca o cruzamento hipertextual dos conceitos mais estáveis – no lugar do centro comercial há um jardim, com preocupações que não se esgotam na pele de betão com textura de “floresta”. O conjunto arrisca uma ideia de paisagem, tão urbana como o Parque da Cidade ao lado da Praça do Município, enfrentando o difícil equilíbrio da artificialização do sistema hídrico com a expansão das infraestruturas da urbanização.

Da arquitetura
Consumidor: dos diagramas funcionais ao simbolismo

A intervenção ocupou o lugar da antiga fábrica têxtil Finex, num terreno que se constituiu estratégico no território municipal e intermunicipal, com a construção do nó viário que liga a EN 107 à A41.

O processo de projeto foi extenso, moroso e contou com vários projetos para diferentes cadeias de venda a retalho (Redgroup, Carrefour e Sonae Sierra / Continente). Isto indicia a existência de dinâmicas num setor que em Portugal teve um crescimento exponencial nos últimos 25 anos, sendo a construção de muitos centros comerciais e hipermercados em zonas urbanas e suburbanas a sua expressão mais concreta.

Com a implementação de formas de comércio centradas no consumidor, a venda a retalho reformulou o conceito de loja, justificando a implementação de programas complexos e multifuncionais com zonas de comércio desenvolvidas sob diferentes ambientes. Talvez por esse motivo se justificou, desde logo, a intenção de associar ao “centro comercial” um “hipermercado”, procurando constituir um espaço que fosse ao encontro das necessidades, dos gostos e até dos desejos mais amplos do consumidor. Sob esta condição, no projeto existe uma pródiga investigação centrada na procura da melhor disposição / articulação para os múltiplos espaços funcionais nos diferentes pisos do edifício. De modo pragmático, podemos identificar quatro grandes grupos funcionais: o centro comercial, o hipermercado, as necessárias zonas de armazém e o imprescindível estacionamento automóvel para os clientes. Salienta-se que em cada uma das propostas para o Carrefour e para o Continente, se o hipermercado, a armazenagem e o estacionamento mantêm alguma permanência dimensional, morfológica e posicional, já no caso do centro comercial existem variações compositivas baseadas na disposição / morfologia das lojas e no respetivo traçado / geometria / posição dos circuitos de circulação, tanto no domínio público como privado.

Para além da pertinência das questões associadas à eficiência funcional, uma outra premissa surgiu da estratégia comercial: garantir que a atividade de consumo estivesse vinculada a uma temática atrativa, um simbolismo capaz de reforçar o caráter da forma construída. No caso do Maia Jardim esse simbolismo procura constituir-se a partir de elementos da natureza, na exploração morfológica da imagem externa e interna do edifício-contentor, e também na semântica que o designa e informa.

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