Carlos Prata
Da cidade
A escola do redesenho
Em 2007, quando se inicia o Programa de Modernização do Parque Escolar, a escola acusava diversos problemas, desde insuficiência de espaço à degradação física e patologias, que a nova intervenção vem resolver, reabilitando e ampliando edifícios existentes e construindo novos volumes, com melhores condições para o extenso programa funcional.
Esta obra é parte relevante da “coroa cultural”, isto é, do conjunto de estruturas culturais e equipamentos coletivos do centro da cidade, mas também do “palimpsesto”, construindo sobre o construído, num contínuo reprojeto, mantendo e/ou obliterando as preexistências, conforme o caso.
Como uma espécie de microcidade vedada, integra diferentes edifícios e espaços públicos (escadas, rampas e percursos, praças e pátios, espaços de estadia e zonas verdes ajardinadas e de enquadramento). A nova composição responde à necessidade de estabilizar frentes urbanas, escalas e implantações, como condição para a integração das formas da arquitetura na forma da cidade – o novo volume principal paralelo à Avenida Luís de Camões dialoga com os grandes equipamentos da zona desportiva e a sucessão de volumes perpendiculares à Rua José Rodrigues da Silva Júnior, por sua vez, cria uma espécie de analogia com a recorrente implantação de blocos lineares de habitação coletiva no perímetro central da cidade.
A renovação, reabilitação, reconversão e ampliação da Escola Secundária da Maia é uma das obras mais emblemáticas do ciclo de consolidação do centro da cidade e da qualificação da sua imagem pela arquitetura, exemplificando ainda a superação das dificuldades que sempre resultam da sobreposição de vários poderes (central, setorial e municipal) e de vários agentes de transformação. É neste jogo de interesses, tantas vezes divergentes na gestão da coisa pública, que a nova Escola Secundária abre, para o futuro, outras hipóteses de evolução, como, por exemplo, o redesenho da Avenida Luís de Camões e a resolução dos picos de concentração do tráfego automóvel que pressionam os equipamentos desportivos e escolares – o projeto na raiz de outro projeto, a obra que nunca acaba é a cidade…
Da arquitetura
Revisitar o moderno: os argumentos racionais e abstratos
A escola é um dos muitos equipamentos com morada na Avenida Luís de Camões.
A escola iniciou a sua ocupação no atual terreno no início da década de 70 com o intuito de albergar a Escola Técnica da Maia. Ainda nesses primórdios constituiu-se como Escola Polivalente, ao integrar no mesmo espaço as diferentes vertentes do ensino secundário: ensino liceal, ensino técnico, ensino diurno e ensino noturno. Nas décadas de 80 e 90 a escola foi sendo ampliada, tornando-se numa escola sede de agrupamento.
Entre 2009 e 2011 a escola foi reabilitada no âmbito da intervenção da Parque Escolar. Com esta intervenção algumas construções preexistentes foram mantidas e requalificadas. No entanto, também se introduziu um número significativo de novos edifícios que (re)integram uma série de programas fundamentais: salas de aula; salas TIC; laboratórios; cantina; auditório; biblioteca; campo de jogos. A intervenção também contempla a remodelação de todos os espaços exteriores, sendo relevante o modo como se processa a articulação entre os diferentes blocos, nomeadamente com o redesenho das coberturas e dos respetivos percursos de circulação, que agora se encontram devidamente enquadrados com o conceito de “percurso acessível”.
A reabilitação da Parque Escolar acabou por trazer uma nova identidade a todo o recinto da antiga escola. Os elementos introduzidos conferem um caráter de sobriedade e de unidade à nova escola. Para o efeito, são importantes alguns argumentos de cariz racional e abstrato. No âmbito da conceção racional: a implantação isolada dos volumes no terreno e a utilização de uma rede de percursos cobertos para estabelecer a interligação entre todos os blocos (aspetos já herdados da escola preexistente); a modulação espacial de alguns pavilhões, nomeadamente aqueles que integram as salas de aula; a modulação estrutural das coberturas dos percursos exteriores; a sistematização da pormenorização. No âmbito da conceção abstrata: as grandes superfícies parietais planas, lisas e atectónicas (o reboco esconde a sua construção); as consolas sem apoios aparentes; os grandes vãos horizontais; os volumes-máquina da panóplia de instalações de conforto térmico e ventilação que o progresso passou a exigir da arquitetura. Estes são argumentos que nos permitem revisitar o moderno.