#14 Zona Desportiva da Cidade – Parque da Maia

Laura Roldão e Costa

Da cidade
A paisagem invisível e o projeto patchwork

Na continuidade dos processos de renovação do centro espoletados pelo Plano de Pormenor do Novo Centro Direcional da Maia e pela sua estratégia, e perante a necessidade de organização do território onde diversos equipamentos desportivos se tinham implantado sucessivamente, a partir da década de 80, o projeto da Zona Desportiva da Cidade – Parque da Maia, consolida a resposta procurada durante muito tempo para a questão do “grande espaço verde” no centro da Maia. Aproveitando o novo quadro comunitário de financiamento, inicia-se o ciclo de intervenções do instrumento integrador do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU).

Novamente perante a “coroa cultural” da cidade, aqui na perspetiva do lúdico urbano, é mais um caso que constrói sobre o construído. Transforma a adição de vazios intersticiais entre volumes e as ruínas das piscinas olímpicas num contínuo ligado, articulando programas, formas e cotas.

A maior parte de nós não se apercebe que o território é muito mais do que o que vemos à superfície. Há uma cidade subterrânea, com uma complexa teia de infraestruturas e redes. E há também uma cidade imaterial dos limites cadastrais e da propriedade registada, cujas barreiras fictícias são por vezes bem mais difíceis de transpor ou demolir do que muros e vedações.

O Parque da Maia trabalhou simultaneamente sobre a cidade invisível e visível: 1) antes do projeto, implicou a operacionalização de novos e relativamente desconhecidos instrumentos de planeamento formal, designadamente a primeira “unidade de execução”, para assegurar a conjunção de uma manta de retalhos cadastrais, unificando os fragmentos de um território “comum”; 2) depois, já sob a veste de projeto, e sob o talude com socalcos no tardoz do restaurante Burger King, construiu a travessia profunda de um novo rio-tubo artificial, de ligação de outros retalhos, infraestruturais, uma nova drenagem pluvial, a jusante da reabilitação do Bairro do Sobreiro; 3) transformou o chão impermeável das piscinas num lago que alimenta a rega dos espaços verdes, destruiu barreiras físicas entre construções desirmanadas, aplicou filtros metálicos e planos de betão para vestir tardozes e desenhou percursos de ligação, atravessamentos e novos usos, cosendo os retalhos edificados e não edificados da Zona Desportiva. Um patchwork de 10 hectares.

Na construção da paisagem urbana, o “verde” é apenas uma das múltiplas dimensões da intervenção, mas talvez aquela que melhor reinterpreta a cidade como um ecossistema humanizado em permanente evolução.

Da arquitetura
Das formas verdes e da sua orgânica agregadora 

O Parque da Maia é uma área que encontrou, com naturalidade, a sua inserção no território urbano. O parque configurou-se como o espaço qualificador e agregador de uma série de equipamentos implantados no grande quarteirão da Zona Desportiva da Cidade inscrito pelos seguintes arruamentos: Avenida Luís de Camões, Avenida Altino Coelho, Avenida D. Manuel II e Rua José Rodrigues da Silva Júnior. 

A capacidade qualificadora e agregativa do parque está relacionada – quase exclusivamente – com a sua condição de “espaço verde”. Aqui, a palavra “verde” significa uma espécie de matéria vegetal que se pode moldar e conformar no espaço de modo tão diverso como peculiar, pois essa matéria é nas suas qualidades física e biológica, tão variada quanto particular. Para além disso, “verde” também quer significar um certo sistema de categoria de espaço não edificado da cidade, como área sem densidade de construção – em grande parte, com solo permeável, mas também com pavimentos duros de betão e pedra destinados à circulação recreativa – e como área de descompressão de outras zonas da cidade relacionadas com o stress quotidiano, no sentido de garantir um suporte espacial para um amplo conjunto de outras atividades que promovem o bem-estar físico e mental das populações.

O Parque da Maia, enquanto “espaço verde”, qualifica o território urbano ao integrar na mancha urbana um conjunto de elementos vegetais (rasteiros, arbustivos e arbóreos) ordenados por um desenho que procura estabelecer com a restante cidade uma conectividade interdependente e dinâmica. A base desta ideia desenvolve-se com os vários diagramas de conceito que servem de matriz para a organização dos espaços entre os muitos equipamentos desportivos que já estavam construídos naquela grande área (estádio; campo de treinos; pavilhão gimnodesportivo; complexo de ténis; etc.).

Para o novo ordenamento foram importantes as modelações da topografia, a geometria dos percursos pedonais, a inclusão de mais instalações desportivas (cobertas e a céu aberto) e, sobretudo, a valência plástica dos elementos vegetais, quais formas verdes, cuidadosamente selecionadas e implantadas para conformar uma espécie de orgânica agregadora do todo.

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